quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Redes Sociais




"Pavorosamente, de repente, se me impôs a certeza de que aquele homem não era eu, jamais fora eu. Tive uma súbita revelação de estar sempre ausente da vida daquele homem, e não só, mas realmente ausente de toda e qualquer vida. Eu nunca vivera; não estivera nunca dentro da vida, quero dizer, de uma vida que pudesse reconhecer como minha, desejada por mim e sentida como minha. Até meu próprio corpo, a minha figura, como naquele momento de chofre me parecia, assim vestida, assim organizada, me pareceu estranha a mim; como se outro me tivesse imposto e ajustado naquela figura para me obrigar a movimentar dentro de uma vida não minha, para me obrigar a cumprir aquela vida da qual eu estivera sempre ausente, só feita de ações exteriores, nas quais agora de repente, inesperadamente, o meu espírito se dava conta de não se ter nunca encontrado, nunca, nunca! Quem fizera assim aquele homem que me representava? Quem o tinha querido assim? Quem o vestia e quem o calçava? Quem o fazia mover e falar assim? Quem havia lhe imposto aqueles deveres?"
(O Carrinho de Mão-Luigi Pirandelo)

Luigi Pirandello nasceu em Agrigento(1867) e morreu em Roma (1936). Suas redes sociais eram outras, pois viveu a Era da Segunda Revolução Industrial e o início da Terceira. Mas lendo um livro de contos desse autor, que tanto admiro, não pude deixar de comparar esse pequeno episódio com o que atualmente nos deparamos todos os dias. A questão é: como o Capitalismo nos molda conforme seus interesses, destrói  o Homem verdadeiro, faz propaganda de um eu que não existe; um eu que insiste em ser o que não é para agradar a não sei quem e quantos; não sei quem, que não se reconhece nem ele próprio.
Difícil tempo o de Luigi Pirandello!
Luigi Pirandello. Dramaturgo, Literário, Pensador!

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